segunda-feira, 14 de junho de 2010

Os fantoches

Eram dois objectos deitados na mesma cama. Dois espelhos que se afagavam com uma autocomiseração magoada, dorida e repetida vezes sem conta...

Bolhas vazias jaziam naquele encontro desbotado e fingido de intimidade.

Quando rebentou a mancha de crude (tão mal guardada!) sobre os lençóis brancos, não mais se podia esconder a verdade...

Ela foi-se embora.

Ele ficou.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sputnik, Meu Amor

(...)

«(...) Tal como reza o ditado: O que se cuida devagar, não tardará a medrar.»

(...)

« Escusado será dizer que eu dormia profundamente. A minha mente estava vazia como um campo de arroz debaixo de chuva torrencial, e não havia meio de perceber o que se passava. Nos lençóis persistia a ténue recordação daquela tarde de sexo, e a realidade afigurava-se ligeiramente desfasada, como um casaco de malha abotoado ao contrário. (...)»
(...)

«(...) A vista era tão impressionante que dava vontade de recortar com uma tesoura e de a pregar na parede da memória.»

(...)
«(...) Miu e eu passámos a estar sempre juntas, como duas colheres sobrepostas, (...)»
(...)
«Alguma vez viram alguém levar um tiro e não ficar cheio de sangue?»
(...)
« -O que importa aqui - murmurei para mim mesmo - não são as grandes ideias que os outros tiveram, mas as pequenas coisas que só a ti te ocorrem.»
(...)
«Uma concha vazia. Foi essa a primeira impressão que a sua imagem causou no meu espírito. Miu lembrou-me um quarto que fica vazio depois de toda a gente se ter ido embora. (...)»

quinta-feira, 10 de junho de 2010

As amarras.

«O medo e a auto-piedade são criminosos refinados. Espalham o nevoeiro sobre as águas e nós ficamos na segurança do porto. Claro que a espera envelhece. Mas é a viagem por fazer que acaba por matar.»