domingo, 29 de abril de 2012


era uma daquelas manhãs quentes e nebulosas e ela tinha chegada a um momento de impasse. queria ter um plano, mas fazia esforço em organizar as ideias com a clareza que sentia necessária. para ela era sempre esse o problema, organizar-se com clareza e verdade.
tinham passado quase dois anos da decisão que a tinha feito mudar a vida e agora encontrava de novo no seu caminho a encruzilhada que precisava desmistificar para continuar. sabia que as decisões estavam a ela e só a ela; que tinha de dizer basta a opiniões alheias e que prender o comando da sua direcção era algo primordial! estava, como sempre, confusa por deixar-se misturar com os outros em vez de ouvir-se serenamente, em vez de sentir as suas verdadeiras vontades e necessidades. sabia que não dependia de ninguém mas deixava-se depender invariavelmente de todos. quando partira para aquele novo lugar (fora e dentro de si), tinha feito um pacto de coerência consigo própria que agora, dois anos depois, estava novamente a ignorar, a trair.
faziam-lhe muitíssima falta as raízes. sentia necessidade da sua terra fértil para (re)organizar dentro, temendo que sem ela pudesse estar a desenvolver um outro plano de fuga, ao contrário de uma mudança emocionalmente inteligente.
tinha 33 anos. a idade oscilava na sua percepção da vida entre maturidade e urgência. sabia teoricamente que não era importante e na prática que não convinha ir de férias adiando a felicidade.
as saudades do mar davam-lhe um profundo nó no estômago; sentia enjoo da terra firme. aliás, sentia vómitos compulsivos! mas mais especificamente da mentira. andava por todo o lado durante a sua vida dos últimos tempos, a mentira. dentro da sua casa, no trabalho, nas relações, nas suas expectativas, nos discursos, nas gentes. sujava tudo, a mentira. fazia dois banhos ao dia há já uns meses, num esforço inútil para limpar do seu corpo essa cola pegajosa que era a mentira. e nada...
o seu maior medo, penso, era fazer a escolha errada. era decidir por exclusão em vez de por compreensão. a decisão por exclusão para ela, era uma forma de cobardia e estava presente há tempo demais na sua vida por medo de se aceitar e em consequência fazer-se bem.
precisava da sua terra fértil para sair da ignóbil terra firme.
LIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIESLIES

Arrogance & Stupidity