quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A insensatez da perda

E cá estava eu no topo do mundo!
Com os dedos dos pés pequeninos e encolhidos,
quase a tocar o céu.
Depois percebi que estava ao contrário,
virada 'pa Norte e a cabeça no fundo.

Dei meia volta,
voltei ao infinito.

Encontrei um poço mas não parei.
Vi as estrelas a trocarem segredos e dei um beijo ao João.

Ri que nem uma louca e chorei a vida fora.
Voltei ao topo do mundo e agora espero o resto do meu caminho.

Ai, a insensatez da perda!

Sin título

"Estoy aquí para regalarte un planeta vacío.

Para que lo llenes con tus cosas.

Esas que no han encontrado espacio en tu mundo,

ocupado por mil otras que están fuera de sitio.

Como yo ahora,
como tú ayer,

como casi todos, casi siempre."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cartas de amor

Está quente, quentinho, quase a ferver!


Se vieres de mansinho dou-te um bocadinho.


Cola o coração à boca e a cabeça na mão.


Pois se vieres de mansinho, de boca enroscada ao ouvido, não te vais arrepender...



Eu volto pequenina,



Com olhos de cirandar e peito de encher.



Dou-te um doce para o teu dia



E damos a volta assim que amanhecer!

Doces caminhos


domingo, 22 de novembro de 2009

Ir!

E o mais insólito é saber, mas não saber como... Se acumular, se deitar tudo fora.
A vontade é muita, mas o espírito sangra.

Como se faz se já não há espaço para conter?
Explodir ou acumular?
Como se faz?

Há quebra-cabeças mais fáceis mas são noutra vida, noutra altura do ser.

Quando vem tudo de uma vez, como se faz?
Explodir ou não desistir?

Desistir; Existir; Ir!

Viver sempre também cansa! (1931)

"Viver sempre também cansa!

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
«Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.»

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Grande Nuvem Azul Que Leva Mensagem Para o Mundo

Um índio foi ao cartório para solicitar a mudança de nome.

O escrivão perguntou:

- Qual é o seu nome?

- Grande Nuvem Azul Que Leva Mensagem Para o Mundo.

- E como se quer chamar agora?

- E-Mail.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

"Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção de alma que nem chegou a falecer."

domingo, 15 de novembro de 2009

Pintei. Peguei no pincel e pintei. Pintei a alma com cores garridas para não se ver a cor que estava por baixo; para esconder a tinta fresca de outros pigmentos sem cor. E tu estavas ali, vazio. Zangado e vazio de triste que estavas. E eu, sem saber como se faz, pintei. Pinto sempre quando não sei e agora não sei nada, pinto tudo...
Quis dar-te a mão para pintares comigo, para pintarmos juntos, mas tu tiraste-a assim que ta pedi.
Agora só pinto, pinto só...
Será que voltas? Ou será que não eras tu?
Estou sem luz, preciso de calor e não tenho luz. Só uma sala vazia e branca por todo o lado. Só uma vazia branca todo lado. Só vazia toda. Só.
Quero colo e tu não tens!
Onde está o meu? Quando vem? Vens não vens?