terça-feira, 9 de março de 2010

Memórias IV

Era mais uma manhã cinzenta que começava. Nada de novo no horizonte. A perna direita saía da cama numa vertigem e num esforço imenso puxava a esquerda para o chão.
O pequeno-almoço atrasado para não destoar de todos os outros, engolido como mais um. Até essa refeição predilecta se tinha transformado no suplício da obrigação. O banho quente já não dava o prazer de antes nem sequer o creme fazia o seu propósito. Uma passagem irritada pelo espelho e a porta da rua abria-se sem sequer revelar um mundo diferente do que estava naquela casa que tinha sido outrora o refúgio do resto.
Tudo igual a ontem e antes de ontem e a antes de antes de antes de ontem.
O que fazia ela ali? Esperava. Mas esperava o quê?? O amor dele? Mas e se ele não o tinha mesmo? E se ele não o tinha de todo?? Mas ela esperava. Era o que lhe tinham dito que se fazia. Ela não sabia como se fazia e perguntava, perguntava todos os dias.
Tinha, havia pouco tempo, sonhado com uma floresta escura que nem breu e sabia que merecia mais luz. Mas essa luz teimava em não vir. Nem ele com ela. (...)

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